A infectologista da Santa Casa de Votuporanga, Regina Sílvia Chaves de Lima, alertou a população sobre o Covid-19
A médica Regina Sílvia Chaves de Lima é infectologista da Santa Casa de Misericórdia; ela foi entrevista pela Cidade FM (Foto; Santa Casa)
Daniel Castro
daniel@acidadevotuporanga.com.br
A médica Regina Sílvia Chaves de Lima, infectologista da Santa Casa de Misericórdia de Votuporanga, participou na tarde de ontem do “Jornal da Cidade”, da Cidade FM, para falar sobre a pandemia do coronavírus. Ela destacou a importância das pessoas ficarem em suas casas e condenou o desrespeito ao isolamento social. “Só com a orientação, solicitando a colaboração das pessoas, não estamos tendo [resultado], estamos seguindo um fluxo de vida como se não tivéssemos vivendo uma epidemia. Talvez tivéssemos que ter regras mais eficazes de proibição”.
Ela explicou que a Santa Casa já está com mais profissionais por conta da atual situação e também pelo o que a instituição aguarda que vá acontecer nos próximos dias. A maior preocupação do hospital é com os pacientes graves, uma vez que eles precisarão de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), e no momento a unidade já trabalha com seu limite máximo de preenchimento, com pacientes de outras patologias, que muitas vezes ficam de 10 a 15 dias ocupando o mesmo leito. “E com essa demanda aumentada, desses casos graves de coronavírus, não teremos leitos suficientes para que esses pacientes sejam assistidos de forma adequada”, alertou.
Existe remédio para o coronavírus?
Não existe nenhum medicamento que faça a prevenção ou que ajude o vírus evoluir de forma menos grave. O que nós orientamos é uma alimentação mais saudável, equilibrada, hidratação e a prevenção que temos tanto orientado que é a questão do confinamento social, que a pessoa fique em casa e faça a higiene de mãos para diminuir a transmissão desse vírus.
Qual a diferença entre a gripe comum e o coronavírus?
O coronavírus começa com um quadro similar ao da influenza: coriza, dor no corpo, uma febre baixa, tosse seca, irritação na garganta. No entanto, por volta do sétimo dia evoluiu para um quadro de dispneia, que é falta de ar; e evoluiu com gravidade, de 24 a 48 horas a pessoa pode ter uma insuficiência respiratória grave, com necessidade de ventilação mecânica e pode até morrer se não tiver uma assistência adequada. E mesmo em casos que você faz tudo (a assistência e a ventilação na UTI), a mortalidade é muito alta nesses pacientes.
Quanto tempo deve durar o coronavírus no Brasil?
Depende muito das ações que estamos fazendo agora, porque se realizarmos realmente um confinamento, as pessoas deixarem de ir para a rua, diminuir a intensidade no comércio, nos trabalhos, para diminuir a circulação do vírus, teremos uma evolução mais lenta. Mas se continuarmos com a postura que estamos tendo, que ainda não é eficaz, teremos um desenho de evolução muito semelhante ao da Itália, que começou agora em fevereiro e ainda está no auge da infecção. Então, não dá para prever, porque depende das nossas ações agora, mas ainda não estamos conseguindo sensibilizar o suficiente o nosso comércio, as pessoas, os idosos. Nós saímos nas ruas do nosso município e tudo continua normal: nós não vemos os idosos em casa, vemos o comércio funcionando, restaurantes funcionando, pessoas saindo na noite, nos bares; festas de condomínios. Tudo funcionando normal. Os supermercados lotados o tempo todo, as pessoas não estão indo só por necessidade, mas sim estocando produtos em casa. Então a nossa postura é muito ruim, tínhamos que ser mais solidários, ficar mais em casa para que se dissemine menos o vírus e não tenhamos uma epidemia tão impactante com tantas mortes que a gente vai ter. E a gente não vai ver morte só em idosos, vamos ver mortes em crianças, em pessoas rígidas, mortes de profissionais da saúde. Existem ações importantes sendo realizadas em Votuporanga, mas falta ainda a questão do confinamento da nossa população, que tem que ser mais solidária, realmente ficar em casa.
Existe uma estimativa de quanto esse vírus pode contagiar a população de Votuporanga?
Se fala em 70% com relação a exposição do vírus, 70% da população vai entrar em contato ao longo dessa epidemia com o coronavírus. Agora, não são os 70% que vão evoluir com gravidade. Aí se entra os fatores de risco, são os pacientes imunodeprimidos, os idosos acima de 60 anos, principalmente os acima de 80 anos, as comodidades, uso de medicamentos que imune e deprimem a pessoa. Então, existem uns fatores de risco.
Quem deve utilizar as máscaras?
Volto a insistir: as pessoas devem ficar em casa. A questão da higiene de mãos, ela pode ser feita com água e sabão, na falta de pia e sabonete líquido, aí sim a segunda opção é o álcool. O álcool ele pode ser líquido a 70%, ele pode ser em gel ou ele pode ser com glicerina. Mas desde que seja feita a higienização das mãos. O álcool ou álcool em gel não pode ser utilizado se tiver sujidade na mão, pois todas as vez que tiver sujidade, antes das refeições ou depois de usar o toalhete, o ideal é utilizar água e sabão. E a questão das máscaras, ela é indicada se o paciente tiver confinado em casa, por ser suspeito de coronavírus, ele tem que usar máscara 24 horas dentro de casa. Se ele tiver sintomas de gripe, ele deve usar máscaras dentro de casa e se for sair na rua e tiver com os sintomas virais, ele deve usar máscara. Usar máscara indiscriminadamente e não fazer higiene de mãos, não tem efeito benéfico nenhum.
Quem tem 67 anos e faz caminhada continuamente, mesmo que não possua muitas pessoas na rua, deve parar?
Ele deve parar, a orientação é de que as pessoas fiquem em casa e não circule nas ruas.
Qual o risco do vírus para as pessoas fumantes?
É um risco aumentado. A gente viu casos da Itália em que o fator de risco era só o cigarro. Era um paciente com 57 anos, que evoluiu com gravidade e não era hipertenso, não era diabético, mas era fumante. Então é um risco acrescido importante para o coronavírus sim.
O que deve ser feito no transporte público?
Bom, a primeira coisa do transporte público é questão da higienização do próprio transporte; isso já foi providenciado pela Secretaria Municipal da Saúde, já existe uma rotina de limpeza desses transportes. A outra é levar o álcool em gel para fazer a higiene de mãos e manter uma distância entre uma pessoa e outra de um metro, isso bastaria. Se ela tiver sinais de gripe, a pessoa deve usar máscara.
É possível pegar o vírus mais de uma vez?
Não. O vírus não mais de uma vez, mas existe cepas de coronavírus, então nessa epidemia uma única vez. Mas o que não impede é que a gente tenha outras epidemias do coronavírus.
A vacina da gripe comum pode mascarar os sintomas do coronavírus?
Não, ela não age. Ela vai desenvolver anticorpos contra os vírus que estão contidos nessa vacina da gripe. Não tem interferência, nem para bem, nem para mal com relação ao coronavírus.
Qual a sua recomendação, usar medicação em casa ou ir direto para o médico?
Sintomas leves que não são de urgência, você pode aguardar em casa e fazer tratamento sintomático. Uma dor no corpo e uma dor de cabeça, eu posso tomar meu analgésico que eu não for alérgica e fazer uso. Mas uma queixa que vai evoluindo com piora, com outros sinais de sintomas, tem que procurar assistência médica.
O ar-condicionado pode ser um risco para o contágio?
O problema não é o ar-condicionado, mas sim o confinamento. Se tiver uma pessoa dentro de um escritório ou uma sala fechada, com gripe e com tosse, vai disseminar para todas as outras pessoas. A orientação é que não fiquem confinados, mesmo quem tiver que trabalhar, que não foi dispensado e é essencial a ida, que se mantenha distante um do outro. E que se o funcionário tiver com sintomas vitais, ele deve ser afastado, não deve ser mantido em trabalho. Se for essencialmente necessário, que ele use máscara o tempo todo, durante sua jornada de trabalho.
O que se deve fazer com o uso do capacete, principalmente quando utilizar o mototáxi?
Teria que ter uma higienização, só que o material que se tem em um capacete, ele não permite que se passe um produto e consiga limpar. Então assim, é uma exposição. Por isso que falamos para ficar em casa.