Aparecida Alves Soares, de 74 anos, se mudou para o município ainda jovem e se apaixonou pela população da cidade
Aparecida Alves Soares contou que aprendeu a ler e escrevendo foleando as páginas dos jornais locais (Foto: Arquivo Pessoal)
Érika Chausson
erika@acidadevotuporanga.com.br
Votuporanga chega nesta quinta-feira em seus 82 anos de fundação trazendo conquistas aos votuporanguenses, momentos inesquecíveis, histórias inusitadas e relatos de superação. Um desses personagens da narrativa do município é a Aparecida Alves Soares, de 74 anos, que mudou para a cidade jovem e desenvolveu um carinho enorme pela população.
Aparecida nasceu em 7 de julho de 1945 na Bahia. Filha de Manoel Soares Sobrinho e Maria Oliveira Soares, tinha cinco irmãos sendo um homem e quatro mulheres, e por causas da vida, perdeu duas irmãs queridas. De família humilde, ela encontrou em Votuporanga uma forma de evoluir: pelos jornais locais.
Em buscas de oportunidades melhores, a família de Aparecida mudou da Bahia para uma vila próxima ao município de Meridiano. O pai trabalhava na roça, como muitos naquela época e, em virtude disso, mudou novamente para algumas cidades da região até pousar em Votuporanga, por volta dos anos 65.
Em uma das passagens por Morro Agudo, aos sete anos, foi matriculada em uma escola, no entanto, não ficou por pouco tempo e não chegou a completas os estudos. O resultado disso? Aparecida não sabia ler e escrever quando se mudou para Votuporanga, aos 20 anos. “A gente assistia televisão, pegava algumas revistas, mas não conhecia à leitura. Sabia escrever apenas meu nome e algumas palavrinhas”, contou.
Ao jornal A Cidade, a votuporanguense de coração confidenciou que aprendeu a ler e escrever com o jornal. Aos 22 anos, Aparecida se matriculou novamente em uma escola no município, estudava no período noturno, porém, por mais uma vez, a vida lhe pregou uma peça e precisou se afastar das aulas por conta do trabalho.
Sempre muito dedicada, ela sempre acompanhou o pai nos trabalhos braçais da roça e, umas das histórias inusitadas, é que em consequência do contato do genitor com japoneses, Aparecida aprendeu a falar algumas palavras na língua estrangeira e, como não tinha muito conhecido, desenvolveu dificuldades em se comunicar corretamente pela língua portuguesa.
Aparecida ainda relatou que as dificuldades da vida nunca foram impedimento. Quando se mudou para Votuporanga, residia próximo ao bairro Estação e a partir daí começou a trabalhar como empregado doméstica em casas de família. Uma das primeiras foi a residência de um diretor e professor e não parou. Posteriormente, trabalhou em imóveis de médicos, professores da cidade.
Em Votuporanga, disse a reportagem do A Cidade, Aparecida já residiu em vários bairros e quando morava próximo ao Assary Clube de Campo, teve contato com o jornal. No começo, foleava as páginas sem compreender as letras e, com empenho e dedicação, passou a entende-las, unia cada letra até formas as palavras, então, aprendeu a ler.
Ela ainda confessou que lia os quadrinhos, os resumos das novelas, “as matérias sobre a prefeitura e a cidade, comecei a saber tudo o que se passava com as outras pessoas, quando mudavam, os empregos, lia o horóscopo”. A partir disso, acrescentou, descobriu que além de ler, sabia escrever e se comunicar melhor com as pessoas.
Os 74 anos de Aparecida foram rodeados de superações. Com o intuito de cuidar das pessoas, ela diz que os sobrinhos e sobrinhos netos são seus filhos de coração, já que sempre ajudou a criar as crianças, assim como de toda a família.
Outro exemplo do empenho ao próximo da moradora de Votuporanga é o trabalho que desenvolveu no Lar Frei Arnaldo. Lá, cozinhava e cuidava de todas as crianças e adolescentes assistidas pela instituição, desde as mais velhas até as mais novas. Atualmente, é aposentada, mas nunca deixou de ajudar.
Questionada sobre a ligação que criou com o município, Aparecida reforça que morar aqui. “Votuporanga era tão gostoso, era pequena quando eu mudei e quando chegava o período de festa, nós ficávamos lá na Concha Acústica, nós ficamos até de madrugada. Eu ia no cinema, tinha exposição, tinha desfiles na rua Amazonas. As pessoas eram muito simpáticas, não penso em sair daqui”, finalizou.