No ano de 1928, o Sr. Missao Otsuki, com 25 anos de idade, e a Sra. Kazuko Otsuki, então com 24 anos, saíram do porto de Kobe, no Japão
Sr. Hidehito, em comemoração dos 80 anos de Votuporanga (Foto: Reprodução)
Assim como inúmeras famílias de imigrantes que saíram do aconchego de seus lares para tentar a sorte em terras longínquas, com a família Otsuki não foi diferente.
Contextualizando o fato, enquanto o Japão estava saindo de uma fase que culminou em décadas de isolamento, o Brasil finalmente decretara o fim da escravidão e a mão de obra nas lavouras de café tornou-se, portanto, mais do que necessária. Com o “Tratado da Amizade, Comércio e Navegação”, assinado no dia cinco de novembro de 1895, em Paris, o Brasil abriu as fronteiras para a imigração japonesa, possibilitando uma grande oportunidade de trabalho aos seus cidadãos.
Dessa maneira, no ano de 1928, o Sr. Missao Otsuki, com 25 anos de idade, e a Sra. Kazuko Otsuki, então com 24 anos, saíram do porto de Kobe, na região de Osaka, com destino às terras brasileiras. Chegando ao país, o casal se estabeleceu primeiramente na região de Colina em uma das propriedades do Cel. Francisco Maximiano Junqueira. Eles vieram com o primogênito, com um ano de idade, mas infelizmente esse faleceu bem novo, e posteriormente, seguiram para a cidade de Jaborandi, localizada a 200 quilômetros de distância de Votuporanga. Ao chegarem ao país tropical, tal como todos os imigrantes, tiveram que superar várias dificuldades.
No início de 1940, juntamente com outras famílias de agricultores orientais, resolveram adquirir terras, com as economias advindas do trabalho na fazenda. A escolha por Votuporanga pode ter um motivo curioso: o nome da cidade. Alguns relatos apontam que, nos primeiros anos da fundação do município votuporanguense, vários caminhoneiros e motoristas passavam por essas “bandas” e se encantavam com o nome diferenciado – o que auxiliou a difundir o local em terras longínquas no nosso Brasil.
Chegando por aqui, os Otsuki e mais cinco famílias (Sawamura, Hassegawa, Matsumoto, Nagatoki e Kawamura) se estabeleceram próximo aonde se encontra hoje o Aeroporto Municipal de Votuporanga. A princípio, realizaram todas as atividades de infraestrutura, como a derrubada de árvores para a construção das residências, preparação do terreno para a futura lavoura e outras melhorias necessárias. Perto do córrego ali existente, ao fundo da propriedade, já existia uma pequena olaria para a fabricação de tijolos – essa mesma foi utilizada para a construção das primeiras casas.
Com a madeira advinda da derrubada das árvores, construíram os galpões para a estocagem da produção, salvaguarda das ferramentas e equipamentos utilizados na “lida da roça”.
Após as realizações das tarefas elencadas acima, iniciou-se o trabalho na lavoura. Assim, com a união e trabalho de toda a comunidade japonesa, o grupo se fortaleceu a tal ponto, que produzia praticamente todos os alimentos que consumiam, constituindo uma sociedade quase autônoma. Concomitantemente a plantação de arroz, milho, feijão, café e posteriormente algodão, Sr. Hidehito destaca os esforços em manter as tradições e costumes de seu povo: falar uns com os outros na língua japonesa dentro de casa e respeitar a hierarquia familiar. Nesse último caso, nosso entrevistado afirma que até hoje mantêm esse hábito e não compra uma galinha sequer, sem antes consultar o irmão primogênito, o Sr. Izur.
Prosseguindo a linha do tempo na ordem dos fatos relatados, ao trabalhar diuturnamente na lavoura, o Sr. Hedehito e o Sr. Missao tiveram contato com vários produtos para o combate as pragas. Se, nos dias atuais, há muita preocupação e divulgação sobre o manuseio correto de agrotóxicos, infelizmente o mesmo não se pode dizer na década de 1950. Por esse motivo, a falta de orientação ocasionou consequências na saúde de muitas pessoas, que sofreram ao manterem contato direto com insumos extremamente nocivos para os humanos.
Depois de tantos anos de trabalho e luta para oferecer uma vida melhor para sua família, temos certeza de que o Sr. Missao Otsuki pode enfim, descansar na terra que o acolheu e na qual se esforçou tanto para produzir bons frutos. Ele deixou sua esposa, a Sra. Kazuko e os filhos, Sra. Tomoko, Sra. Mitiko, Sr. Izur, Sr. Hidehito e Sra. Junko.
O responsável pelas aulas era o Sr. Nozomu Abê, um dos grandes precursores e também um dos responsáveis por popularizar o Judô em Votuporanga e todo o estado de São Paulo. Após o seu falecimento, o Sr. Hidehito assumiu a responsabilidade de continuar os ensinamentos do esporte na Academia de Judô Cerejeira, como o novo sensei.
Durante anos o aprendizado era realizado na própria fazenda, porém, como crescente interesse da população pelo esporte, o sonho de manter viva a tradição e os ensinamentos da cultura oriental, as aulas foram transferidas para uma sede exclusiva, localizada na rua Tietê. Por mais de 50 anos, Sr. Hidehito, juntamente com outros professores, difundiram o esporte, levando o nome de Votuporanga para todo o Brasil.
Esta história foi extraída do livro "Votuporanga e seus personagens - Um Olhar diferenciado dos filhos das brisas", de autoria de Ravel Gimenes.