Familiares de Felício Gorayb e Hernani Nabuco relembram fatos da época em que os dois participaram do movimento em São Paulo
Felício Gorayb e Hernani Nabuco
Aline Ruiz
aline@acidadevotuporanga.com.br
Para muitos brasileiros, o dia de hoje, 9 de julho, ainda é considerado como mais um feriado. Muitos nem sabem por qual motivo ele é decretado. A data, no entanto, é uma forma de homenagear os vários voluntários que, por revolta ou amor ao país, defenderam os ideais de um povo.
Pai do votuporanguense Nasser Gorayb (foto), o comerciante Felício Gorayb foi um dos voluntários que lutaram pela causa constitucionalista. Felício nasceu em Ibirá, morou em São José do Rio Preto e residiu em Votuporanga entre os anos de 1944 até 1981, ano que faleceu.
Do ato valente do senhor Felício restou o orgulho dos filhos, quatro no total. “Na época ele tinha 22 anos e trabalhava como comerciante em São José do Rio Preto. Era um orgulho para os jovens daquele tempo fazer parte de algo assim, então lutar na Revolução foi motivo de orgulho para o meu pai”, contou o filho Nasser Gorayb.
Quem também tem boas histórias para contar e relembrar é Maria Leda Nabuco, filha de Hernani de Mattos Nabuco (foto), que também fez a sua parte durante a Revolução. “Lembro que meu pai me contou que ele fugiu de casa para lutar na Revolução Constitucionalista. Ele queria muito fazer parte dessa história, e na época ele tinha 21 anos”, falou Maria Leda.
Maria Leda ainda disse que durante a Revolução seu pai levou um tiro, o que prejudicou sua audição ao longo da vida. “Ele tinha problema para ouvir por conta das consequências da Revolução. Nós temos guardado até hoje o capacete que ele usou durante o combate. É possível ver a marca da bala que fez com que ele perdesse parte da audição”, relembrou.
Para homenagear os soldados constitucionalistas que se radicaram em Votuporanga, existe hoje um obelisco na avenida 9 de julho. Na placa constam ainda os nomes de Alfredo Rodrigues Simões, Anibal Martins, Azis José Abdo, Felício Gorayb, Felício Munhós, Hernani de Mattos Nabuco, Judith Freitas S. Saltini, Leônidas Pereira de Almeida, Luiz Saltini, Ofélia Catelli Jabur, Narciso Pelegrini, Olívio Araújo e Nelcíades de Oliveira.
A Revolução
No dia 9 de julho de 1932, o conflito armado tomou seus primeiros passos sob a liderança dos generais Euclides de Figueiredo, Isidoro Dias Lopes e Bertoldo Klinger. O plano dos revolucionários era empreender um rápido ataque à sede do governo federal, forçando Getúlio Vargas a deixar o cargo ou negociar com os revoltosos. No entanto, a ampla participação militar não foi suficiente para fazer ampla oposição contra o governo central.
O esperado apoio aos insurgentes paulistas não foi obtido. O bloqueio naval da Marinha ao Porto de Santos impediu que simpatizantes de outros estados pudessem integrar a Revolução Constitucionalista. Já no mês de setembro daquele ano, as forças do governo federal tinham tomado diversas cidades de São Paulo. A superioridade das tropas governamentais forçou a rendição dos revolucionários no mês de outubro.
O desequilíbrio entre as forças governistas e constitucionalistas era grande. O governo federal tinha o poder militar e os rebeldes contavam apenas com a mobilização civil. As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. As armas e alimentos eram fornecidos pelo próprio estado, que mais tarde conseguiu o apoio do Mato Grosso.
As consequências
Cerca de 135 mil homens aderiram à luta, que durou três meses e deixou quase 900 soldados mortos no lado paulista - quase o dobro das perdas da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.
Embora o movimento tenha nascido de reivindicações da elite paulista, ele teve ampla participação popular. Um dos motivos foi a utilização dos meios de comunicação de massa para mobilizar a população. Os jornais de São Paulo faziam campanha pela revolução, assim como as emissoras de rádio, que artingiam audiência bem maior.
Até hoje, a história da Revolução de 32 é mal contada. Ou, pelo menos, é contada de duas formas. Há a versão dos governistas (getulistas) e a dos revolucionários (constitucionalistas). Durante muito tempo, a versão dos getulistas foi a mais disseminada nos livros escolares do país, mas hoje, com uma maior participação dos professores na escolha do material didático, a história também já é contada sob a ótica dos rebeldes.
A importância do movimento é incontestável. Seu principal resultado foi a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, dois anos mais tarde. Mesmo assim, a Revolução de 32 continua como um dos fatos históricos do país menos analisados, tanto no tocante às causas quanto em relação às suas conseqüências.