Quando os olhos de Clara cruzaram com os de Tino Viola enquanto ele cantava, também ela sentiu arrepios pelo corpo em direção ao coração. Também ela se sentiu enamorada no primeiro olhar, tinha certeza de que ele seria seu primeiro e último amor. Quando, uma semana depois, se encontraram no Arraiá, dançando a noite inteira, ela teve a certeza de que aquele amor seria para a eternidade. Sabia das dificuldades que enfrentariam, já que os pais eram preconceituosos e não permitiriam o namoro, como realmente não permitiram.
Ao receber o recado do amado para fugir, seu coração disparou. Nunca desejou unir-se a um homem daquela maneira, sair furtivamente de casa, fugir. Pensava em casar-se de véus e grinaldas, como a maioria das moças de sua época fazia. Por alguns dias pensou, meditou sobre a situação embaraçosa, relutava em aceitar ao convite de Tino, mas, com o passar dos dias, não suportando a saudade, mandou recado dizendo que aceitaria, sim, fugir, viver a dor da separação. Tinha certeza do amor que sentia, sabia que estava enfrentando tudo e todos. Chegou à conclusão de que valia a pena, afinal, amava-o como jamais havia amado alguém. Viveria, sim, a intensidade daquela paixão avassaladora. Seus sentimentos estavam acima da razão. Num ímpeto, mandou recado dizendo que o esperaria no lugar combinado.
Se esgueirando em meio à sombra da noite, não demorou para que chegasse ao local. A lua no alto do céu alumiava timidamente a natureza, a brisa fresca tocava de leve a pele de Clara, ela, ali, parada em meio à noite enluarada à beira da estrada. Tinha medo que os pais descobrissem a fuga. Impaciente, esfregava as mãos, alisava as longas madeixas, o suor frio em suas mãos a deixam mais tensa. Para aumentar seu sofrimento, vê surgir na escuridão os faróis de um veículo. Por momento, teve a sensação tratar-se dos pais à sua procura, escondeu-se atrás do tronco de uma árvore para não ser vista. Alarme falso. Em seguida, não acreditava no que via. Seu coração batia acelerado, a espera chegava ao fim. Surge na curva do caminho, montado em seu alazão, quem ela tanto esperava. O cavaleiro que vinha em marcha acelerada, ao ver a silhueta se destacando na paisagem, não teve dúvidas, esbarrou o bicho, num gesto rápido estendeu os braços fortes e, em instantes, Clara estava na sua garupa, segurando forte à sua cintura para não cair com o galope. A bela cena teve a lua e as estrelas por testemunhas. Em instantes a sombra da noite envolveu os amantes e o silencio foi entrecortado pelo canto distante e dolorido do urutago.
O casal não entendeu direto ao ser acordado com batidas fortes na janela. Ao ouvirem o estrondo da porta caindo ao chão, não tiveram duvidas de que a moça seria resgatada. Foi tirada à força dos braços do seu amado. Tino Viola não teve reação diante do Colt apontado para sua cabeça.
O último apito foi o sinal para que o trem iniciasse a partida rumo à capital, levando Clara que, com olhos em lágrimas e o coração partido, deixava para trás seu grande amor.
Ao fim de dois meses, depois de chegar à cidade grande, percebeu que estava grávida, não contou pra ninguém. Para desespero, soube do fim trágico do seu amado e do abandono da casa à beira da estrada. Nunca mais amou outro homem, vivendo somente para o filho e para as lembranças. Prometeu a si mesma voltar um dia àquele lugar para sua última homenagem e voltou acompanhada de Tininho, anos depois. Ao chegar à tapera, teve a certeza insofismável de que Tino Viola foi seu primeiro e último amor!