Quando eu era criança, minha mãe tinha uma regra inabalável na hora do café da manhã, não somente, é claro: “Todo mundo bebe um suco de cenoura porque faz bem pra saúde”. Aí está uma frase que, por algum motivo, incendiava meu espírito rebelde de criança. Não que eu tivesse algo contra a saúde ou contra as cenouras, apesar de não simpatizar muito com elas, mas, vamos combinar, ser obrigado a fazer algo às sete da manhã nunca é agradável. Em um domingo como esse nosso, decidi que já tinha chegado no meu limite. Inspirada por alguma rebeldia juvenil, declarei que o suco de cenoura era “doce demais” e que eu preferia algo “mais azedinho”, afinal gosto de tudo que é cítrico. Acho que esperava uma negociação, talvez uma troca por um suco de laranja. A resposta da minha mãe não foi bem o que eu esperava. Sem perder o ritmo enquanto fritava os ovos, ela apenas lançou um olhar duro que dizia “essa não colou, vai ter que procurar uma desculpa melhor”. E foi o que fiz. Decidi apelar para a lógica e o bom senso, estratégias raramente usadas na minha idade de sete anos. Preparei minha defesa, afirmando que o suco de cenoura causava uma sensação estranha nos meus dentes, um argumento que eu acreditava ser irrefutável. Minha mãe, tranquilamente balançando a cabeça, apenas trocou o prato de ovos na minha frente por um copo ainda maior de suco de cenoura. “Bom para os dentes e muito bom para os olhos também”, ela disse, e voltou a se concentrar na frigideira. Frustrada, mas ainda não derrotada, fiz minha última jogada: a chantagem emocional. Com os olhos cheios de lágrimas falsas, murmurei algo sobre o suco de cenoura me fazer sentir mal e me dar dor de barriga, esperando que a preocupação maternal superasse a sua lógica de vitaminas e minerais. Ela parou, me olhou diretamente nos olhos e, por um momento, pensei ter vencido. Mas, em vez de ceder, ela se sentou ao meu lado, pegou o copo de suco e começou a beber comigo. “Sabe, quando eu era pequena, a Vó Leticia, (minha avó) fazia o mesmo comigo. Eu não gostava muito no início, mas ela dizia que algumas coisas que não gostamos podem ser exatamente o que mais precisamos”, ela explicou, fazendo uma pausa para ver se eu estava entendendo. “E, muitas vezes, as coisas que resistimos são as que trazem os maiores benefícios.” Não sei se foi a história, ou talvez o fato de ela estar compartilhando o suco comigo, mas aquele copo não pareceu tão ruim. E assim bebemos juntos, em silêncio. Crescendo, percebi que aquele domingo foi mais do que apenas uma batalha de vontades à mesa do café. Foi uma das muitas pequenas lições que se acumulam na experiência de uma criança, ensinando não só sobre a importância de vitaminas, mas também sobre enfrentar coisas que não gostamos, mas que são necessárias, com uma atitude positiva. Hoje, sempre que enfrento uma situação desafiadora, seja no trabalho ou na vida pessoal, lembro-me daquele suco de cenoura. Aprendi que, muitas vezes, o que inicialmente resistimos pode ser exatamente o que precisamos para crescer e melhorar. E não apenas isso, mas também que, às vezes, enfrentar juntos, compartilhando o “suco estranho”, pode tornar tudo um pouco mais fácil. Então, na próxima vez que a vida te servir um copo de algo que você não está muito a fim, tente dar um gole antes de fazer cara feia. Pode não ser tão ruim quanto parece, e você pode até descobrir que era exatamente o que você precisava. Entendamos, a vida nunca quis nos fazer mal. Nós sempre vamos ser peça especial.