Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). O assunto da semana é polêmico: certamente, se você já fez alguma pesquisa sobre como começar a organizar sua vida financeira e usar o cartão de crédito, você se deparou com uma orientação do tipo: “se o parcelamento é sem juros, parcele o máximo de vezes possível”. Parece lógico do ponto de vista matemático: você dilui o valor da compra em 10, 12 vezes e, enquanto isso, seu dinheiro fica em uma conta rendendo. Mas vale lembrar que somos seres humanos e não somos racionais: seguir essa orientação pode ser uma bomba nas suas finanças.
O problema já começa no fato de que nosso cérebro não sabe lidar com o futuro: não é à toa que procrastinamos tudo o que está ligado a nossa saúde e aposentadoria, que moram em um tempo distante e parecem demorar muito. O cartão de crédito tem um poder psicológico que praticamente não é falado: ele separa o momento da compra do momento do pagamento. Para seu cérebro, é como se você estivesse consumindo de graça. Isso, por si só, já seria um motivo para ficar atento(a) diante dessa orientação de parcelar sempre o mais tempo possível.
Mas, não para por aí: o quanto as compras parceladas “roubam”suas chances de escolha dos próximos meses? É isso mesmo: manter compras parceladas faz com que parte do seu dinheiro já esteja comprometido todos os meses. Você é um ser humano com desejos infinitos: a cada mês, surgem novas necessidades, novos desejos e imprevistos. Quanto mais seus rendimentos estiverem presos em parcelas do passado, mais escassez de escolhas você terá. Basta uma piscadinha para tudo sair do controle.
Aí o Juliano argumenta: “e se meu dinheiro estiver rendendo em uma aplicação e, enquanto isso, eu vou comprando? Não tem risco de dar errado”. Calma aí, Juliano. Primeiro que apenas uma parte muito pequena da população vive essa realidade: a maioria está vendendo o almoço para comprar o jantar. Segundo, que o parcelamento pode, facilmente, virar uma justificativa para fazer escolhas ruins. Isso mesmo: sua reserva pode servir como uma bela justificativa do seu cérebro para perder o controle, afinal, você tem aquele dinheiro guardado, se algo der errado.
Aceita que dói menos: somos irracionais e tudo vira justificativa para cedermos aos nossos desejos e tentações. Quantos “eu mereço” você já utilizou para permitir uma compra que você não deveria ter feito? Particularmente, nunca vimos ninguém usar o “eu mereço” para comer salada e poupar para a aposentadoria.
Esse tipo de orientação leva em conta a matemática, mas não o ser humano que existe em você. Só vai funcionar para uma parcela muito pequena da população, que tem um controle muito grande sobre o orçamento e as próprias contas. Para os outros 95%, isso será uma bela armadilha que vai restringir as escolhas e até pode causar dívidas e perrengues, diante de imprevistos. A verdade é uma só: quanto mais livre de amarras seu dinheiro estiver, mais liberdade você terá para se organizar, fazer escolhas melhores e estar mais flexível diante de acontecimentos da vida. E isso pressupõe não encher sua vida de parcelas – especialmente de produtos e serviços que você já usufruiu e ficam apenas pegando espaço na sua vida. Pense a respeito e tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).