Seus olhos eram doces e seus gestos delicados. A doçura de seu olhar e a delicadeza de seus gestos combinados dava-lhe, ao mesmo tempo, um ar de humildade e aristocracia inconfundíveis.
Seus cabelos eram castanhos e seu sorriso de uma meiguice sem fim. O castanho de seus cabelos e a meiguice de seu sorriso, harmonizando-se com uma tez rosada e fresca, caracterizavam-na como alguém profundamente frágil e sensível.
Os momentos mais difíceis punham a prova e a mostra a sua maravilhosa essência. Emanava dela uma bondade fraterna que encantava a todos.
Tinha uma personalidade versátil que irradiava uma segurança e uma tranqüilidade incríveis. Sua discrição no vestir e sua seriedade de comportamento não possibilitavam o menor gesto de desrespeito ou brincadeiras inoportunas.
Ao falar era de um conhecimento profundo. Parecia dominar todos os assuntos e não se omitia a discuti-los por mais impróprios que parecessem ser.
Assim, por tudo isso, todos a queriam muito. Mesmo quando por algum motivo falava mais duramente, ou lançava um olhar significativo, mostrava um amor latente que a tornava muito próxima de todos.
Ela era assim, alguém em quem se podia confiar e que conseguia entender os problemas. Ela sabia o que era normal na infância. Era alguém que brincava e chegava sempre junto, que não se assustava com as pequenas peraltices infantis e achava natural o comportamento próprio de uma adolescência feliz.
Agora, depois de lembrá-la distante, eu a sinto tão próxima que me pilho a tomar suas atitudes como se fossem minhas. Sinto, como ela sentia uma felicidade imensa no entender as crianças e a juventude de hoje. Sinto um prazer e uma alegria alegre, quando jogo bolinhas de gude ou brinco de pular corda com a criançada. Sinto uma emoção forte quando converso com essa juventude cheia de vida e não posso deixar de sorrir ao vê-los repetir as mesmas cenas que eu, quantas vezes fui protagonista no passado.
Sinto mais que isso. Sinto uma felicidade tão grande, que somente alguém muito maior poderia ter me possibilitado de forma tão extraordinariamente bela e inconfundível: a minha professora.
*Encarnação Manzano é educadora e vereadora em Votuporanga