Carnaval, para mim, é como a praia. Isto é, eu só gosto quando estou lá, mas resisto muito para ir, e não vejo a hora de sair... Na praia, adoro o mar e o sol. Mas tem aquela areia toda, e também o sal, que custam a sair dos cabelos e da pele; há sempre muita gente disputando o mesmo metro quadrado de espaço; existe a dificuldade para conseguir comprar alguma bebida ou comida, e tudo isso somado me incomoda e diminui a atração de estar lá. Geralmente não vejo a hora de voltar para o conforto da minha casa, para a abundância de água doce, cabelos e peles finalmente limpos e macios.
Às festas de carnaval fui a algumas, poucas, no decorrer da vida. Quando menina, assistia um pouco do carnaval de rua, gostava das músicas, das marchinhas típicas da festividade: “Ô abre alas, que eu quero passar”; “Mamãe eu quero”; “Olha a cabeleira do Zezé” e tantas outras nesse gênero musical. O clube do bairro, lá no Brás, em São Paulo, promovia matinês animadas e concorridas. Fui algumas vezes, escondida, mas só para ver, pois meu pai era muito ciumento das filhas e não nos permitia o desfrute carnavalesco. Certa hora do baile as pessoas saiam do salão para dançar na rua, aí eu aproveitava e me esbaldava no meio da multidão, cantando e dançando como toda gente.
Quando jovem, com um grupo de amigas, íamos aos bailes do Juventus, sempre muito animados e concorridos, também. Neles compreendi o porquê do zelo e da preocupação do meu pai. Bêbados pegajosos abundam nesses bailes, além dos aproveitadores e do famoso “mão boba”. Perdia a graça e logo me ia embora. Fui ao sambódromo uma vez, faz uns vinte anos, e somente porque amigos chilenos queriam muito conhecer o famoso carnaval brasileiro. Confesso que gostei, é realmente um belo espetáculo, com as fantasias, com as alegorias, as músicas das escolas, a bateria... É um show, uma animação que fascina o público, tal o desempenho e o esplendor dos passistas das escolas, na avenida. Ainda assim, uma vez foi o bastante.
De lá para cá, carnaval para mim é sinônimo de feriado prolongado, de viagem para o campo, ou praia, mas sempre para lugares sossegados onde o carnaval só é lembrado se ligarmos a TV. Soube de uma pesquisa há alguns anos que descobriu que a maioria do brasileiro faz como eu, ou seja, foge do carnaval, quer sossego, sombra e água fresca. O pior do carnaval atual, penso eu, são as músicas, o “tum tum tum” cansativo do axé e suas variações musicais, como “aê, aê, tum tum tum, he, he, he, âê, vamu pula, aê, he, he, he, tum tum tum …”
Ano passado, no carnaval, recebi umas amigas de São Paulo. Freqüentamos juntas os mesmos bailes, tanto os de carnaval, quanto os de porão, e depois, as discotecas. Para relembrar um pouco daquela época, fomos todas a “Noite do vermelho e preto” do Votuporanga Clube. Felizmente, tocaram as marchinhas e músicas próprias do carnaval, e estava muito bom para nós, nos divertimos bastante.
Ocorre que tenho o sono muito leve e ouvido de tuberculoso, daquele tipo que até ouve a grama crescer, exagerando só um pouquinho. E por isso não gosto desse carnaval atual, porque os “tum tum tum aê aê aê tum tum tum” do axé, sem serem convidados, invadem o meu quintal e não me deixam pregar o olho, até quase às seis horas da manhã. E me levanto as sete... Psiu, psiu, rufem em surdina, tambores, gritem baixo seu chiclete com dona banana, que eu quero mais é poder dormir, e não só na quarta-feira de cinzas...
Norma Moura é advogada, empresária e estudante. Votuporanga-SP