Março é um mês inexorável, para mim. Representa o final do verão e o início do outono, das chuvas abundantes, como as que vimos, e, principalmente, sentimos seus efeitos, ultimamente. Março é insensível e implacável, pois é tempo de nos preocuparmos com o “leão” do imposto de renda, reunir aquela papelada toda e descobrir, na última hora, que falta um documento importante (sem nos esquecermos de declarar a “merrequinha” que nos retornou ano passado da nota fiscal paulista, senão cairemos como patinhos na tal da “malha fina”).
As “águas de março fechando o verão”, como lindamente cantou Tom Jobim, trazem os primeiros resfriados, as gripes e crises de rinite alérgica, afora as conjuntivites, cujo surto tomou conta do Estado inteiro, e ao que parece, as autoridades sanitárias só tomaram conhecimento disso depois que a imprensa noticiou e o caos já estava instalado, como sempre. Quando o carnaval ocorre no mês de fevereiro, março representa efetivamente o início do ano para os brasileiros. Excepcionalmente, neste ano, o carnaval aconteceu em março, e, reparem, está tudo muito quieto, morto, parado, o que parece sinalizar que o ano de trabalho somente começara em abril!
Assim, se o ano começa em abril, prazo máximo para entrega da declaração de renda (ai, ai, ai) começamos a trabalhar para pagar os impostos escorchantes que nos são cobrados, e, segundo consta, a carga tributária é tão pesada que representa praticamente cinco meses do fruto de nosso trabalho!
Raciocinem comigo: - se o ano começa em abril, trabalhamos para pagar os impostos durante os meses de abril até agosto. Teremos que viver com o que restar do fruto de nosso trabalho dos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro. Quatro meses, apenas. O que significa que somos
tributados mais do que é justo e suportável. E ainda querem voltar com a tal da CPMF! Ah, parem com isso! Será preciso sempre lembrar aos nossos representantes políticos, deputados e senadores defensores da criação de mais impostos e taxas, que a
Inconfidência Mineira se deu justamente pela derrama fiscal? O que o homem obtém de mais honrado é o que conquista com o suor do seu rosto, com o fruto de seu trabalho. Apenas quem ganha dinheiro honestamente sabe o valor que ele tem, e não aceita ser espoliado e separado dele assim, vendo o mau uso que nossos governantes fazem do nosso dinheiro, muitas vezes utilizado em causa própria.
Basta prestarmos atenção para constatarmos que somos taxados por tudo: pagamos quando nascemos e quando morremos; pagamos diversas vezes pelo mesmo dinheiro que ganhamos ou temos guardado, pois pagamos os impostos quando o ganhamos; pagamos se o guardamos no banco; pagamos impostos quando utilizamos esse dinheiro para adquirir qualquer coisa; e pagamos novamente quando vendemos ou doamos ou deixamos em testamento o que amealhamos em vida.
Seremos cordeiros e mansos até quando, afinal? Até quando a esbórnia e a corrupção se estenderão por todos os cantos desse Brasil, tão grande, tão diferente, tão rico e tão miserável? Teríamos que, mais do que somente cantar aquele refrão: “O povo, unido, jamais será vencido!”, efetivamente acreditar e aplicá-lo em todas as situações, a fim de nos defendermos da voracidade do Estado e dos representantes do povo, aqueles mal intencionados e corruptos.
Somente por meio da educação o povo brasileiro poderá sair dessa crise que se agiganta, e que parece não ter mais solução. Notadamente quando sabemos que sequer nos classificamos dentre as cem melhores universidades do mundo! Essa “é pá acabá”, como diria uma amiga minha, e terminar de vez com o mês de março. Pois já vai tarde!
Norma Moura é advogada, empresária e estudante