Quem não sabe ou ainda não percebeu que o tempo é tão forte quanto colunas de cimento e ferro que seguram pontes? Todo mundo sabe disso. O tempo, como se diz é o senhor do universo. Cruel e implacável. Sempre vence porque não aprendeu a retroceder. Não há registro na História da Humanidade que o tempo tenha dado um passo para trás, só adiante. Não tem volta, o que passou, passou. Quando sentimos o tempo voltar é do que o sentimento de saudade em nossas mentes, nada mais que isso. Em tempos passados não era possível mudar conceitos ou extinguir costumes, o povo era fiel naquilo que era tradicional. A aceitação pela família de um chuveiro elétrico, uma televisão ou de uma assinatura de revista com foco em sensualidade era coisa de outro mundo. Os costumes eram outros. Os filhos eram criados de forma segura e a independência deles tinha limite quando da assinatura de sua carteira de trabalho pela vez primeira. Fumar e beber frente aos pais nem pensar. Casamentos tinham duração por toda vida. Os verbos desquitar e divorciar não eram conjugados, exceto em casos extremos e por famílias encravadas em metrópoles por mais de três gerações. Os avós sempre foram pessoas de idade avançada e com sabedoria impressionante sobre os mais diversos assuntos. Para saber se cairia chuva no dia não era preciso ler jornais e nem assistir ao homem do tempo na televisão (para os que tinham essa relíquia) como nos dias de hoje. Nossos avós quando perguntados olhavam para o sol e para as nuvens, meneavam a cabeça e nos diziam: não vai chover hoje. Seria mágica ou sabedoria da idade entender o tempo? Mas o tempo mudou conceitos. Hoje tudo é diferente. O homem do tempo tem terno e gravata e se apresenta em vídeo. A mulher de hoje tem os filhos que quer porque a pílula lhe dá essa possibilidade. A velhice chega mais tarde porque a medicina evoluiu e o homem aprendeu a prevenir-se dos riscos da saúde. A evolução foi tão significativa que hoje não só é possível observar crianças intra-uterinas, mas também realizar minúsculas cirurgias em fetos dentro de seus aconchegos. O tempo nos premiou com essas e outras maravilhas da evolução, mas também nos fez experimentar situações indesejáveis. Por decisões inconsistentes algumas famílias se desincumbem de compromissos profissionais ou familiares, colocando na rua crianças ou idosos. Por míseros dinheiros menores são vendidos e comprados a céu aberto. Por uma ilusão de momento meninas de doze anos vendem seus corpos e se tornam mães estraçalhando de formas não desejáveis seus futuros e de seus filhos. A boneca deixa de ser um brinquedo na mão dessas crianças que viraram pedintes de porta em porta em busca de migalhas. A educação virou um trapo nas mãos de políticos inescrupulosos que só pensam nos ordenados e verbas capazes de os tornarem ainda mais poderosos e petulantes. Nos tempos passados o número de bandidos era insignificante e todo mundo conhecia porque eram um ou dois. Hoje são centenas de milhares morando em palácios e locais públicos nos três âmbitos onde se fazem leis e regulamentos que cada vez mais lhes dão autonomia para saquear um povo que os elegeu. Nos tempos passados os presidentes brasileiros eram alfabetizados. Experiências eram feitas em bancos escolares com leguminosas e jamais com voos espaciais a um custo de doze milhões de dólares diluindo e tornando o tesouro nacional cada vez mais sucateado. Movimento social era realizado em clubes de dança. Dia da mentira não era data nacional e nunca tão verdadeiro como nos dias de hoje. Mansão do lago era alguma coisa de filmes de terror, aqueles filmes bem aterrorizadores e não locais onde se colocam dinheiro em meias e cuecas. Em tempos passados o clube dos cafajestes eram filhinhos de papai que se metia a playboys, vestidos a caráter, mas jamais representantes de um país que se propõe a ser sério. Fico triste de pensar que o tempo evoluiu muito na contramão do interesse comum aplaudindo a mentira e alimentando a ignorância da verdade.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho
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