Chegadas e partidas. Essas são as formas que o mundo registra todas as coisas quando elas começam e quando terminam. Assim acontece com as pessoas. Uns chegam e outros partem independentemente de escolhas. A ninguém foi dado o livre arbítrio de determinar que dia pudesse vir e muito menos em qual dia partiria. Sempre torcemos para retardar a partida porque é peculiar de cada um achar que seu tempo não vai terminar tão logo. Muitos agem imaginando serem eternos e que o fim nada mais é que um componente da vida dos outros. Algumas religiosidades admitem que a alma no momento da partida recorde os instantes vividos e deixados para trás, ou melhor, relembra tudo que foi vivenciado de bom ou de mau, com boas ou más intenções. Tudo é revisto nesse momento como se fosse possível assistir ao nosso próprio filme. Daí, ficamos nós, postados como xeiques, sem pipocas nas mãos, a assistir ao filme da verdade, usando os recursos da consciência para checar o que soubemos fazer do bom uso de nossas horas. Esse filme não tem trailer, uma vez concluído não tem reparos para dignificar o enredo e muito menos cortes para extinguir o que praticamos sob a regência da ira, da indignação, do ódio ou da vingança. É claro, que nosso filme teria sido muito mais bonito se as escolhas certas tivessem sido feitas nas horas certas. Se o bom senso tivesse sido usado nos momentos exatos da livre escolha. Aí sim, teríamos tido um belo filme para concorrer com o ‘oscar’ da criatura perfeita. Pelo fato de estar lendo agora estas singelas linhas, seu filme ainda não terminou e muita coisa poderá ser ainda revista. Ainda temos a chance de optar por caminhos mais dóceis, com oportunidades de melhor qualidade do nosso filme. Somos roteiristas, diretores e atores ao mesmo tempo de uma película que mais dias menos dias seremos chamados a assistir. A cada um de nós cabem decisões na hora das escolhas: ser solidário a ser indiferente, ser generoso a ser mesquinho, aceitar as pessoas respeitando seus limites a ser duro e incompreensível. A cada oportunidade vivida filmamos cenas que deixarão lágrimas de dor ou de alegria em nossos olhos quando formos os próprios expectadores. Não fomos aqui colocados com fins exclusivos de embelezamento. A natureza é bela por si só e não precisaria do ser humano para enriquecê-la ainda mais. Estamos aqui para servir, para justificar que somos capazes de assumir uma parcela de generosidade e de sentimento piedoso de simpatia para com a necessidade dos menos esclarecidos e menos favorecidos. Não estamos aqui para acumular riquezas materiais, para ocupar cargos de relevância ou para nos sentirmos superiores. Sejamos lúcidos assegurando maior amplitude de nosso campo de visão neste mundo onde muitos se dão ao luxo de desfrutar unicamente de interesses pessoais e supérfluos, provocando cenas indesejáveis do filme que um dia contará detalhe de sua história. Sabemos que grande parte da humanidade ainda vive abaixo dos limites da decência e os que isso ignora, poucos ou nenhum mérito possui e suas películas serão apresentadas, sem nenhuma sombra de dúvida, numa tela descolorida e com imagens em preto e branco.
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - Votuporanga - manuel-ruiz@uol.com.br
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