A noite esconde muitos segredos e a noite revela outros tantos. Os ruídos na noite me intrigam e fascinam. Há o cão que ladra, latidos ardidos, por vezes urgentes e curtos, às vezes uivados, chamados que vão longe e ecoam no silêncio da noite.
Os carros que passam acelerados e com pressa de chegar na noite, antes que o dia os surpreenda e os denuncie. Pelo som do motor se reconhece o caminhão, que soa um ruído trepidante, escandaloso. O ruído próprio e inconfundível do Fusca, remete ao passado, às noitadas e sonhos de outrora.
As sirenes na noite são raras, mas sempre causam apreensão e curiosidade: será acidente, perseguição aos bandidos, o que será, Meu Deus, enfim? Coisa boa nunca é, e o jornal do dia nos contará...
Os alarmes dos autos e das casas assustam, perturbam e afligem o corpo cansado e insone.
Há autos que passam lentamente, com o rádio ou CD tocando música em alto volume, só querem chamar atenção, despertar a quem dorme, desafiar às leis e à polícia, é certo.
Na noite há os que dormem sem sonhos, descansam da labuta diária. Há os que trabalham, cuidando para que esteja tudo em ordem e pronto para o dia que vai chegar.
Há os que velam pelos que dormem, os que cuidam dos doentes nas residências e nos hospitais; há os que patrulham a cidade zelando pelo sossego e pela boa ordem; há os que vêm ou vão de viagem, e há os que aguardam despertos por quem vai chegar, na noite.
Os ruídos na noite são acalantos quando o vento passa nas folhas das árvores e plantas do jardim. São alvissareiros quando trazem a chuva que provoca um ruído de brama que nos lembra de Deus, pois se faz presente na força e no poder da tempestade.
Os ruídos da chuva na noite fazem surgir os cheiros, de grama e de terra molhada, de minerais e de sais da terra e do ar, trazem um sono gostoso de coisas passadas e de um dia esplendoroso que se avizinha.
Os pássaros da noite são outros tantos ruídos na noite que se fazem presentes. Trazem uma sensação de constância, de paz e de quietude.
Comparecem na festa da noite que acontece no meu jardim, quando os sons dos humanos se aquietam e os desejos adormecem.
E acontece de ser no meio da noite, quando ela é mais umbrosa e escura, quando o silêncio é pesado e o sono se torna igual no que a morte deve ser.
Há por vezes pios e trinados na noite, escapados em sonhos sonhados talvez com brincadeiras ao Sol, e esses são ruídos na noite que me fazem sorrir. Os pássaros do dia também repousam e se preparam para a experiência do novo dia que virá. Suas alminhas também sonham e esperam...
O galo que canta faz o ruído na noite que antecipa o seu final. Um último remexer e virar, um muxoxo de despertar, e já não há mais noite nem silêncio, o trinado do Bem-te-vi anuncia o raiar do dia: - bem-vindo, benvindo!
Norma Moura é advogada, empresária e estudante de Pedagogia na Unifev - Votuporanga