Desde criança, mesmo não entendendo determinadas situações, já não gostava de compartilhar das badalações que se faziam a políticos que visitavam a cidade. E, vejam que naqueles tempos ainda existiam alguns resquícios dos tempos do Império e era muito latente ainda o fim da ditadura Vargas. Mas, morávamos no “sertão”, as pessoas eram muito simples e se submetiam a essas “tietagens”, para que a cidade pudesse ser aquinhoada com algum beneficio.
Depois de adulto, participando da vida política, sempre fiquei com o estômago revoltado cada vez que tenho de comparecer a essas puxações de saco. Faço isso pelo bem maior que é, sem dúvida, apoiar os governantes locais em novas conquistas que possam trazer mais bem estar ao nosso povo. Por isso, mesmo tendo bancado o mal educado com bons e competentes amigos meus, me recusei a comparecer em um jantar onde estaria o atual governador do Estado. Não porque o tenho como má pessoa, muito pelo contrário, sei que o mesmo é um bom chefe de família e uma pessoa educada, porém, como político que é, ainda não consegui ver no cidadão nada que me faça acreditar que fará alguma coisa pela nossa região. É meu ponto de vista e espero, sinceramente, que ele prove que estou enganado. Só o tempo dirá.
Escrevo isto tudo, por estar revoltado e enojado, com essa novela macabra da Euclides da Cunha. Depois de todos os capítulos que já vimos, assistimos e até participamos, com direito a lances de 171 (estelionato), temos de assistir, novamente, a peregrinação de importantes figuras de nossa e demais cidades, ao gabinete de um secretário de Estado, para pedir de chapéus nas mãos que o governo do Estado pague o que deve. Não, isso não é justo, isso é desrespeito, é no mínimo “molecagem”, coisa de quem não honra nada. O governador e seus subordinados não podiam deixar isto acontecer, deviam ter se adiantado, vindo a nossa região, conversar com as pessoas aqui, se desculpar aqui e pedir, aí sim, se isto fosse necessário, um prazo maior para o início das obras. E, não adianta justificar que o compromisso era do anterior, pois, descaradamente o atual foi eleito no rastro desta farsa. Sabia disso melhor que ninguém. Também, com essa brincadeira de mau gosto, já ganharam uns seis meses depois da famosa assinatura sem validade. Por isso tudo, espero que no futuro não venham inaugurar trechos com direito a bandinhas, mesmo porque o povo da região não pode privilegiar e homenagear quem não o respeita.
E, por consequência disto tudo, cada vez mais se reforça em mim e, possivelmente, em outras pessoas, o seguinte raciocínio: Não quero continuar vivendo num Estado onde os governantes são sempre da capital, que nada têm a ver com o interior, de tão diferente enorme e rica que é, que absorve boa parte do arrecadado, que concentra os poderes políticos e que está pouco se lixando para o resto; ou então esses governantes são de grandes cidades que rodeiam a capital e não possuem qualquer afinidade com o outrora chamado sertão. E, o resto somos nós, aqui do interior, aqui do sertão. Interior ou sertão com possibilidades de riquezas imensas, desde a cultura simples do caipira, às terras agricultáveis, planas, vastas e rico em águas. Interior ensolarado, cheio de energia, porém esquecido, desprestigiado e colocado em segundo plano pelos políticos moradores dos Jardins, Vale do Paraíba, Baixada Santista, etc.
Chega, basta de sermos a rabeira do comboio. Precisamos de governantes comprometidos com o nosso interiorzão. Assim o estômago não revolta mais.
Nasser Gorayb é comerciante e escreve neste espaço aos sábados - nasserartigo@terra.com.br