Se há um equívoco humano onde costumamos nos perder intensamente, com graves prejuízos para os ideais que julgamos lutar em favor, é nos colocarmos como donos da verdade.
É quando começamos a achar que somos imprescindíveis. É quando achamos que nosso ponto de vista é o mais acertado e deve ser aceito por todos. É exatamente quando nos colocamos na posição de impor idéias ou comportamentos, esperando adesões sem questionamentos.
É aí que nos perdemos intensamente e prejudicamos os progressos do conjunto. É que deixamo-nos fascinar pela vaidade, pela transitoriedade precária de um cargo ou pela suposta e tola noção de superioridade e proteção que julgamos possuir.
São conhecidos os prejuízos históricos de tais comportamentos em todas as épocas da humanidade. Nem é preciso citar qualquer exemplo, mas o façamos apenas para reforçar a presente abordagem. Caifás, Pilatos, Hitler, entre outros personagens do passado e do presente estão entre tais casos, de nomes famosos ou conhecidos e mesmo entre anônimos na realidade e intimidade de empresas e famílias.
Sim, tais casos lamentáveis estão nos esportes, na política, nas artes, nas religiões, nas profissões, nos relacionamentos familiares ou não e mesmo nos diferentes grupos de diferentes ideais. Inclusive nos ideais da crença e da fé, infelizmente.
Isso é conseqüência de nossa imaturidade ou tentativa desesperada de resolver as coisas sob o nosso limitado e estreito ponto de vista. Imaturidade que ainda guarda os largos conteúdos do egoísmo, causa que articula a ambição, a inveja, o ódio e o ciúme, entre outros males.
Ciúme e inveja, esses vermes roedores da paz humana. Para que? Eles juntos, articulados pelo egoísmo, perturbam as relações sociais, provocam divisões e destróem a tranqüilidade e a segurança.
Não somos donos da verdade, não somos donos de ninguém. Nossa opinião, nosso ponto de vista é apenas um ponto de vista pessoal, fruto de nossa experiência pessoal que é diferente da experiência do outro, que não pode ser desprezada.
Por que desmerecemos o esforço alheio, porque tentamos paralisar iniciativas alheias? Por que, finalmente, desejamos impor nossa vontade? Perguntas que somente a consciência individual pode responder.
Orson Peter Carrara é conferencista