Ele foi assassinado no dia 18 de maio de 2016 e seu corpo foi encontrado decapitado em uma mata próximo a Bom Jardim-MT
Polícia Civil elucida mistério do desaparecimento de Silvinho Moro (Foto: Divulgação PJC)
Uma investigação desenvolvida pela Diretoria de Inteligência
da Polícia Judiciária Civil (PJC) com a Delegacia de Chapada dos Guimarães (MT)
foi concluída com o indiciamento de cinco pessoas envolvidas no desaparecimento
e morte de dois fazendeiros, um vaqueiro e o advogado votuporanguense Silvinho
Moro. O inquérito policial foi encaminhado ao Poder Judiciário de Mato Grosso
no dia 1º de agosto deste ano.
Pelos quatro homicídios, foram indiciados os executores
Mário da Silva Neto e Thiago Augusto Falcão de Oliveira, que estão presos preventivamente.
Além dos assassinatos, eles vão responder ainda por subtração de bens e
veículos pertencentes às vítimas, ocultação e destruição de cadáver,
falsificação de documentos e associação criminosa. Estes últimos crimes também
foram atribuídos a Rodinei Nunes Frazão, de 48 anos, Evangelista Matias Sales e
João Edgar da Gama.
Segundo a Polícia Civil, os suspeitos estão envolvidos na
trama que levou ao assassinato dos fazendeiros Tirço Bueno Prado e o filho,
Joneslei Bueno Prado, em 9 de maio de 2016. As vítimas eram moradoras de
Apucarana (PR) e adquiriram uma propriedade rural no município de Planalto da
Serra (MT), denominada Fazenda “Sapopema”, localizada na estrada que liga ao
município a Paranatinga (MT). No local, pai e filho foram mortos depois de
anunciarem a venda ou arrendamento da propriedade.
O terceiro assassinato é do vaqueiro Claudinei Pinto Maciel,
de 29 anos, ocorrido no dia 13 de maio de 2016, quando ele foi à fazenda das
vítimas Prado, para tentar achar uma vaca que tinha fugido da área vizinha da
fazenda Sapopema. O vaqueiro foi surpreendido e morto por um dos homens que
haviam tomando posse da fazenda.
A quarta vítima é o advogado votuporanguense Sílvio Ricardo
Viana Moro, mais conhecido como Silvinho Moro, que foi morto no dia 18 de maio
de 2016. O corpo foi localizado, decapitado, no dia 19 de julho de 2016, na
Estrada do Lago do Manso, nas proximidades da comunidade Bom Jardim, em Chapada
dos Guimarães. Ele foi assassinado por tomar conhecimento das mortes e não
concordar com os planos dos criminosos em forjar o contrato de arrendamento da
fazenda da família Prado.
A investigação do desaparecimento dos fazendeiros teve
início na Delegacia de Chapada dos Guimarães. Pai e filho residiam sozinhos no
imóvel rural, localizado em uma região isolada, sem sinal para comunicação via
telefone. A atividade econômica da propriedade era a pecuária e a renda obtida
era devido à venda de gado.
Conforme o delegado, Diego Alex Martimiano da Silva,
inicialmente, a escassez de informações para identificar testemunhas foi a
maior dificuldade da investigação. ”O local é de difícil acesso, ermo e tivemos
dificuldade grande para identificar testemunhas desse crime extremamente
complexo. Os corpos foram encontrados carbonizados e nossa maior dificuldade
foi no tocante à identificação desses corpos e localização de testemunhas que
pudessem ajudar na elucidação desse crime grave”, disse.
O delegado acrescentou que o crime ocorreu em duas etapas.
No primeiro momento, a organização criminosa objetivou grilar a fazenda de
valor elevado, simulando o contrato de compra ou arrendamento. Mas os
criminosos acabaram por assassinar os proprietários que estavam na terra. “As
vítimas moravam num local isolado e os criminosos dificilmente acharam que
seriam descobertos”, concluiu Diego.
Em meados de 2015, as vítimas, diante das dificuldades,
decidiram que iriam vender a fazenda ou mesmo arrendar a propriedade. Elas
anunciaram a venda ou arrendamento do imóvel rural, ocasião em que conheceram o
estelionatário Rodinei Nunes Frazão e o advogado Sílvio Ricardo Viana Moro,
ambos residentes em Campo Verde (MT).
Os dois agiam como “corretores informais” e se colocaram à
disposição de pai e filho para oferecer a propriedade e auxiliar no processo de
regularização da documentação da fazenda, que ainda não estava escriturada,
pois havia apenas a “posse”.
Em 2016, Rodinei e Sílvio passaram a realizar negócios de
corretagem e se tornaram amigos de Mário da Silva Neto, natural de Nobres (MT)
e residente na cidade de Rondonópolis (MT). Mário Neto é considerado uma pessoa
de alta periculosidade, suspeito da prática de vários homicídios nas regiões de
Nobres e Rondonópolis. Ele também é envolvido em “grilagem” de terras.
Grilar a fazenda da família Prado foi plano elaborado pelo
estelionatário Rodinei e Mário Neto. Eles iriam propor o arrendamento da
propriedade e quando estivessem na posse da área, não mais efetuariam o
pagamento.
Morte dos fazendeiros
Assim, no dia 9 de maio de 2016, Rodinei levou Mário Neto
até a fazenda Sapopema e o apresentou ao fazendeiro Tirço Prado como interessado
na propriedade. Neto começou a discutir com o senhor Prado e o filho Pradinho
(Joneslei) os termos da proposta de arrendamento.
Em meio à discussão, o fazendeiro Tirço Prado deixou claro
que não sairia da propriedade, que arrendaria a área, mas continuaria residindo
no local. Isso não foi aceito por Neto que, diante da insistência do
fazendeiro, e, de forma inesperada, sacou um revólver calibre 38 e efetuou dois
disparos, atingindo Tirço Prado e Joneslei Prado, na cabeça.
Após os homicídios, Neto determinou que os corpos fossem
destruídos. Os dois, Neto e Rodinei, de posse de combustível, acenderam uma
grande fogueira, deixando os corpos queimando no local. Em seguida, subtraíram
a caminhonete Hilux branca das vítimas.
Na manhã seguinte, os dois suspeitos retornaram ao local do
crime para realizar a “limpeza” dos restos mortais. Também estavam presentes
neste dia Thiago Augusto Falcão, comparsa de Mário Neto, morador de Nobres,
também suspeito de vários homicídios.
Os três, Mário Neto, Rodinei e Thiago, juntaram os ossos e
os poucos restos mortais que resultaram da fogueira, colocaram em um saco e
jogaram no Rio Mata Grande, nas proximidades da fazenda.
Com a eliminação dos donos da Fazenda Sapopema, os três
criminosos tomaram posse da propriedade e todo o patrimônio ali existente,
entre eles 70 cabeças de gado e o maquinário agrícola. Eles forjaram um
contrato de arrendamento, como se o fazendeiro Tirço Prado realmente tivesse
arrendado a propriedade a eles. Nesse processo, o advogado Sílvio Ricardo Viana
Moro foi chamado pelos criminosos para que, diante de alguma necessidade, os
representassem.
Morte do Vaqueiro
No dia 13 de maio de 2016, Thiago Falcão, comparsa de Neto,
foi até a fazenda para dar início ao recolhimento do gado. Por volta das 16h30,
foi surpreendido pelo vaqueiro, Claudinei Pinto Maciel, de 29 anos.
O vaqueiro era morador de um sítio vizinho e havia ido à
fazenda na tentativa de encontrar uma vaca que estava perdida. Ele não sabia
das mortes ocorridas na propriedade. A investigação apontou que o homicídio se
deu porque estava no “lugar errado, na hora errada”.
Ao se deparar com o vaqueiro que, certamente, descobriria a
ausência dos donos da fazenda Sapopema, Thiago sacou uma arma de fogo e efetuou
um disparo contra o vaqueiro. A vítima caiu em frente à cerca de acesso à sede
da Fazenda. Seguindo o mesmo método utilizado na eliminação dos corpos das
vítimas anteriores, Thiago fez uma grande fogueira e o corpo do vaqueiro foi
carbonizado.
Na madrugada seguinte, 14 de maio de 2016, os restos mortais
de Claudinei foram encontrados pelos familiares, residentes nas proximidades. A
carbonização foi quase completa e a identificação definitiva do corpo somente
foi possível por meio de exame de DNA, a partir de material fornecido pelos
familiares.
Morte do advogado
Ao tomar conhecimento das mortes ocorridas na fazenda e do
plano dos autores, o advogado Silvio Ricardo Viana Moro não concordou e
advertiu que tudo acabaria sendo descoberto pela Polícia.
Pelo fato de não confiarem mais no advogado, Mário Neto e
Thiago, em 18 de maio de 2016, convidaram Sílvio para irem de Campo Verde até a
região de Bom Jardim, em Nobres. Na Estrada do Manso, próximo a Bom Jardim,
assassinaram o advogado. O corpo foi deixado no mato e foi encontrado dois
meses depois, no dia 19 de julho de 2016. A vítima foi decapitada para
dificultar a identificação.
Crime complexo
O delegado Luiz Henrique de Oliveira, coordenador de
Inteligência da Polícia Civil, destacou a complexidade da investigação e os
esforços de todos, polícia e perícia, nos esclarecimentos dos crimes, em
resposta a angústia das famílias. “Apesar de toda complexidade dessa investigação,
foi possível estabelecer com segurança a materialidade dos crimes investigados,
possibilitando trazer à tona a verdade dos fatos, fornecendo aos familiares
dessas quatro vítimas uma resposta segura sobre a ocorrência dos crimes, todos
hediondos, e sua autoria”, afirmou.
Além da Diretoria de Inteligência e da Delegacia de Chapada
dos Guimarães, participaram do trabalho operacional as Delegacias de Nobres,
Campo Verde e a Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf) de
Rondonópolis.
A Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) teve
papel relevante na confirmação da identidade das vítimas e de provas que
levaram à responsabilização dos autores e envolvidos.
*Primeira Hora - Rondonópolis