Sentença foi reprovada por familiares da vítima que deixaram Fórum gritando por justiça; promotor estuda se irá recorrer
Sentença foi anunciada pelo juiz Jorge Canil às 22h de ontem e causou reações opostas no tribunal
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
Um julgamento complexo, com um casal no banco dos réus, que se prolongou por mais de 12 horas e foi acompanhado aproximadamente 100 pessoas. Assim foi o primeiro júri popular de 2015, que iniciou às 9h e terminou às 22h de ontem. Em uma decisão dos jurados, Gisele Rodrigues Hildebrando dos Santos, acusada de participar do homicídio do ex-companheiro, Leandro Custódio dos Santos, foi inocentada. Já o companheiro dela, Thiago Maranho Fernandes, foi condenado a 15 anos de reclusão em regime fechado, por ter matado a vítima com golpes de faca e facão.
A decisão dos jurados retirou duas das três qualificadoras sobre Thiago e negou a participação de Gisele no crime. Com isso, o juiz Jorge Canil aplicou a pena de 15 anos de reclusão para o réu, que permanece preso, sem direito a recorrer em liberdade. Já a mulher, ganhou a liberdade e deixa a prisão.
A sentença causou revolta em familiares da vítima, que deixaram o Fórum aos gritos, cobrando justiça. O promotor Eduardo Boiati comentou a decisão dos jurados, que não acatou totalmente o pedido da acusação. "A decisão foi lamentável", afirmou o promotor, que vai se reunir com a família de Leandro, para decidir se recorrerá da decisão. Por sua vez, o advogado de Gisele, Cléber Costa, comemorou. "Se fez justiça. Os jurados acataram a tese que defendemos", disse o defensor. Por sua vez, o advogado de Thiago, Jaime Pimentel, disse que vai recorrer da decisão.
O julgamento
O julgamento teve início por volta das 9h40, e contou com a presença de um grande público, há muito tempo não visto no tribunal do júri da Comarca. Havia aproximadamente 100 pessoas entre estudantes de Direito, familiares da vítima, dos réus e pessoas da comunidade. A família de Leandro Custódio dos Santos, de 35 anos de idade, morto com mais de 20 golpes de faca e facão, sentou na primeira fila, com camisetas com frase clamando por justiça.
O crime aconteceu na manhã de um domingo, em maio de 2013. Leandro foi até a casa de Gisele, sua ex-companheira, onde teria iniciado uma briga com Thiago, atual namorado da mulher. Na época, Gisele tinha uma medida protetiva que impedia Leandro de se aproximar dela. Thiago Maranho Fernandes assumiu o crime e alegou que o cometeu, pois temia pela sua vida e da namorada, Gisele.
No sorteio de jurados para o conselho de sentença, foram escolhidos quatro mulheres e três homens. Participaram do corpo de jurados Sandra Aparecida Marão, Daniela Piovesan, Alício simioli, Fabiano De Haro, Cibele Zafani, Maria Alice Maranho e Edsel Eduardo Gorayb.
Foram ouvidas dez testemunhas de defesa e acusação, além dos depoimentos dos próprios réus. Foram aproximadamente cinco horas de interrogação das testemunhas. A primeira pessoa a ser ouvida foi o filho de 14 anos de Gisele com Leandro. Pela parte da acusação, o promotor Eduardo Boiati apresentou, por meio de projeção holográfica, o depoimento de um vizinho que morava a 50 metros do local do crime, que foi testemunha presencial dos fatos.
O homem contou que estava em frente à casa dele, lavando a calçada, a cerca de 50 metros da casa de Gisele. Por volta das 12h30, a vítima, Leandro, chegou à residência de Gisele, acompanhado por um rapaz, e começou a chamar pela moça, pedindo pelas filhas. Em seguida, deu detalhes da sequência que culminou com o homicídio.
Segundo ele, Gisele abriu o portão, e Thiago, em posse de um facão e uma faca, saiu golpeando com as duas mãos Leandro, que não esboçou reação. Quando o rapaz que acompanhava a vítima tentou intervir, Gisele teria evitado que apartasse e ainda gritou "vai, vai, vai", para Thiago, que seguia aplicando facadas na vítima, segundo a testemunha. O homem disse que, após o crime, Gisele pegou a moto que estava no interior da casa, colocou o capacete na cabeça de Thiago, que fugiu do local. Em seguida, a mulher foi vista jogando uma sacola dentro do carro de Leandro, onde estaria uma faca, na tentativa de incriminar Leandro, para que se pensasse que ele foi armado até a casa dela.
Em seu depoimento, Thiago Maranho afirmou que agiu em legítima defesa. Por sua vez, Gisele disse que apanhava de Leandro quando estavam casados, e que, inclusive, tinha contra ele uma medida protetiva, para que não se aproximasse da casa a uma distância mínima de 500 metros. Segundo ela, Thiago atingiu Leandro em busca de defesa.