A Dra. Juliana Akita, neurologista que atuava como chefe do ambulatório de cefaleias da UNESP e agora atende em Votuporanga, fala sobre o assunto
A Dra. Juliana Akita fez sua graduação, especialização em Neurologia e Doutorado pela Faculdade de Medicina de Botucatu (Foto: UNESP)
O maio Bordô é uma campanha nacional que visa conscientizar a população sobre as cefaleias, as tão conhecidas dores de cabeça. Para falar sobre o assunto, o jornal A Cidade convidou a Dra. Juliana Akita, neurologista, que atuava como chefe do ambulatório de cefaleias da UNESP (Universidade Estadual Paulista) e atualmente dedica seu tempo ao consultório em Votuporanga.
A médica explica que se estima que cerca de 20% da população brasileira sofra com enxaquecas, um dos subtipos mais comum das cefaleias. “A enxaqueca é uma doença basicamente genética, que pode causar dores intensas de cabeça, sensibilidade à luz, aos sons, náuseas e irritabilidade. Ela sofre muita influência dos hábitos de vida e estado emocional e acomete principalmente as mulheres jovens. Existem alimentos que a desencadeia, como o excesso de cafeína, chocolates, refrigerantes, embutidos, alimentos condimentados e bebidas fermentadas (como cerveja e vinho).
Contudo, o estresse emocional com certeza é um dos, se não o mais importante, fatores condicionadores de sua frequência. A ansiedade, o humor deprimido e a fadiga a torna crônica e refratária ao tratamento. Quando aliada a noites mal dormidas e o bruxismo (ranger os dentes), geralmente passam a ser diárias. Daí, em geral se inicia o abuso no uso de analgésicos e a história se torna completa e complexa: o paciente em geral já acorda com a dor, toma analgésicos ao longo do dia para melhorar e nem consegue mais identificar o que a desencadeou. Comumente nessa fase é que o paciente procura ajuda de um neurologista, preocupado com doenças mais graves, como os tumores”.
Questionada sobre o tratamento, a Dra. Juliana explica que é complexo e individualizado. Mas com certeza, o principal vem da mudança do estilo de vida. É necessário ajuste da alimentação; parar o uso de analgésicos, pois pioram expressivamente as crises ao longo do tempo; normalização do padrão de sono; tratamento dos transtornos do humor (como ansiedade e depressão) e, de forma indispensável, a atividade física regular. “Diversas medicações estão disponíveis hoje para o tratamento da enxaqueca que, em média, mantemos em torno de um ano, até adequação de todas essas condições. Naqueles pacientes que ainda assim as crises são frequentes ou que não podem fazer uso de medicações, como é o caso das gestantes, temos disponível a possibilidade de realizar os bloqueios de nervos periféricos, que são injeções realizadas diretamente nos nervos que carreiam a dor de cabeça. Apesar de parecer algo doloroso, é um procedimento muito rápido, mais tranquilo que a aplicação de um botox, seguro e feito na própria consulta médica”, ela relata.
A neurologista alerta sobre sinais que apontam que a dor pode ser algo mais grave: dores de cabeça desencadeadas ao esforço físico ou atividade sexual; alterações neurológicas (dificuldade para andar, falar, enxergar); uma dor nova, que se iniciou em fases específicos da vida (como na menopausa, em puerpério ou gravidez; com uso de hormônios ou ao mesmo tempo de outras doenças, como câncer, doenças reumáticas etc). “Independente de sinais de gravidade, as dores de cabeça sempre devem ser avaliadas e tratadas, com ou sem remédios, dependendo do caso de cada paciente”, a Dra. Juliana finaliza.
Dra. Juliana Akita
A Dra. Juliana Akita fez sua graduação, especialização em Neurologia e Doutorado pela Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP); tem título de especialista em Neurofisiologia/Eletroneuromiografia pela Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica, com atuação em doenças neuromusculares. Durante sua carreira acadêmica, uma de suas linhas de pesquisa envolvia o estudo das cefaleias.