Enterro foi realizado na tarde desta quinta-feira (30) no Cemitério Municipal; lideranças nacionais e estaduais participaram do ato
Fabiano, filho de Dimas Casemiro, fez um discurso emocionado na tarde desta quinta-feira (30) (Foto: Daniel Castro/A Cidade)
Daniel Castro
daniel@acidadevotuporanga.com.br
Homenagens e muita emoção marcaram o sepultamento dos restos mortais de Dimas Casemiro, morto pela ditadura militar em 1971 e que era um dos “desaparecidos” do período. O ato ocorreu na tarde desta quinta-feira (30) no Velório Municipal. Logo em seguida foi realizado o enterro, no Cemitério de Votuporanga.
A data de ontem não foi escolhida por acaso: 30 de agosto é o Dia Internacional da Vítima de Desaparecimento Forçado. Os restos mortais foram depositados ao lado de Dênis, irmão de Dimas.
Lideranças de órgãos nacionais e estaduais participaram da cerimônia, entre elas Herbert Barros, secretário nacional de Cidadania (do Ministério dos Direitos Humanos), e Eugênia Gonzaga, procuradora da República e presidente da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). O prefeito João Dado também participou.
Estiveram presentes ainda Samuel Ferreira, coordenador científico da CEMDP e do Grupo de Trabalho Perus (GTP), a professora Raiane Patrícia Severino Assumpção, pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), peritas do GTP, Taís Lima, representante da Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, e Larissa Leite, membro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (responsável pelo programa de pessoas desaparecidas).
Em fala bastante emocionada, Fabiano Casemiro, filho de Dimas, disse que o sepultamento é algo tão único e diferente que, mesmo em um ambiente de velório, ele não esperava “os pêsames”. “Pêsames se refere a algo ruim que aconteceu, porém o sentimento agora é de alívio. É uma emoção diferente a conclusão de uma história que já está durando 47 anos desde o desaparecimento dele”, falou. Fabiano tinha quatro anos quando o seu pai foi morto.
Conforme Fabiano, desde a descoberta da vala pelo jornalista Caco Barcelos, aconteceram alguns progressos, no entanto, mesmo assim era muito difícil acreditar na identificação. “Quem acompanhou a quantidade de ossadas que foram tiradas de lá, afirmava que não era possível identificar, mas foi. Hoje o meu desejo do fundo do coração é que as outras famílias envolvidas tenham essa sorte e possam enterrar os restos mortais de quem quer que seja que lutou contra a ditadura”, contou.
Muita emoção também nos momentos em que a artista votuporanguense Zu Laiê, cantou algumas canções, entre elas “Amanhã vai ser outro dia”, de Chico Buarque, que critica a ditadura. Muitos presentes cantaram com Zu Laiê.
O mistério sobre a execução de Dimas começou a ser desvendado em 1990, quando mais de mil ossadas de mortos pelo regime militar foram encontradas em uma vala clandestina no Cemitério de Perus, em São Paulo. Os testes que identificaram os restos mortais de Dimas só foram concluídos em fevereiro deste ano dentre as mais de mil ossadas.
Eugênia Gonzaga explicou que há muitos anos trabalha com a identificação dos remanescentes ósseos da vala de Perus, onde foi escondido o corpo de Dimas e de vários outros desaparecidos políticos. “Escolhemos esse dia para fazer a entrega para a família porque hoje é o Dia Internacional da Vítima de Desaparecimento Forçado”, revelou.
Amigo
Luiz Roberto Vilar Morini, 72 anos, falou sobre a amizade que tinha com Dimas. Os dois eram amigos de infância. “Ele era muito trabalhador. Hoje o filho dele é amigo do meu filho, então fiz questão de vir aqui deixar a minha homenagem”, comentou.
Presos na ditadura
O casal Luiz Sérgio Nicoletti, de 70 anos, e Vera Lúcia Nicoletti, 68 anos, foi preso durante a ditadura militar em 1969. Hoje, morando em São José do Rio Preto, eles fizeram questão de participar do sepultamento dos restos mortais de Dimas. Preso em 1970, João Batista Costa, 75 anos, também morador de Rio Preto, foi outro que acompanhou o sepultamento. Ele ficou preso em São Paulo por mais de sete meses. “Ficamos 25 dias detidos, dos quais a primeira semana foi de muita tortura e de muito sofrimento, tanto eu quanto ela, juntos e também separadamente”, disse Luiz Sérgio.