Pietro Gabriel Crolin, de 17 anos, e Pietra Faria, de 19 anos, se sentem representados com o nome social na rede estadual
Segundo a diretora da escola, Isaura Deolinda D’Antônio, basta requerer à escola para o aluno ter a inclusão do nome social (Foto: Gabriele Reginaldo/A Cidade)
Da redação
Pietro Gabriel Crolin, de 17 anos, e Pietra Faria, de 19 anos, sabem bem o que significa diversidade sexual e de gênero e os desafios que enfrentam todos os dias. Eles estão em busca da transição de gênero e na escola em que estudam conquistaram o direito do nome social por conta de uma resolução de uma Lei Estadual (Resolução SE nº 45 de 2014), que dispõe sobre “ações de prevenção contra quaisquer atos atentatórios e discriminatórios dos direitos individuais e coletivos de pessoas homossexuais, bissexuais, travestis ou transexuais, no âmbito das escolas da rede estadual de ensino”.
Segundo Pietro Crolin, ele mudou seu nome na rede estadual de ensino há três anos, quando entrou no primeiro ano do Ensino Médio e conheceu o direito da mudança de nome. “Fui o primeiro a fazer essa mudança de nome na escola. Assim que entrei na escola, comecei a me aceitar e solicitei a mudança. Aqui, eu sou respeitado e me tratam como menino mesmo. Eu uso o banheiro masculino e não tenho problemas com isso”, explicou o aluno.
Mas essa aceitação não foi tão fácil. Pietro contou ao A Cidade que enfrentou diversos desafios, inclusive em casa. Ele afirmou que “primeiro me assumi lésbica, para ir mudando aos poucos para me aceitarem, mas mesmo assim fui expulso de casa”, e relembrou que o corte de cabelo foi o ponto de partida para se definir transexual.
“O corte foi quando eu me reconheci e agora, depois dessa mudança do nome social, eu vou entrar com o pedido para a mudança de todos os meus documentos. Além disso, vou procurar um médico para fazer um tratamento hormonal. O seio é meu maior inimigo. Não estamos errados com a nossa opção e não posso deixar falarem que não sou amado, por isso eu debato quando falam algo preconceituoso, porque eu não posso deixar isso acontecer”, disse.
Pietra Marineta Faria fez a mudança de nome no ano passado, quando descobriu que tinha o direito. Ela disse que se sentiu mais reconhecida e representada pelo seu nome social. “A escola ajudou bastante e me acolheu. Eu me sinto muito bem quando estou nela. Em casa a minha mãe me aceita e é a minha melhor amiga”, afirmou a aluna.
Mas apesar da aceitação na escola e em casa, Pietra tem medo das ruas. “O meu maior medo é quando estou na rua, porque as pessoas me olham, dão risada ou até mesmo me olham com preconceito”, disse.
Dados
De acordo com dados da Secretaria Estadual da Educação, consta no último levantamento realizado no primeiro semestre deste ano que em todo o estado foram registrados 365 pedidos para uso de nome social na rede escolar. “No mesmo período do ano passado eram 290 estudantes matriculados com nome social. Comparando os períodos (abril de 2016 e abril de 2017) observa-se um aumento de 25%. Deste total, 69% são mulheres trans e travestis e 31% são homens trans, sendo que a maioria dos alunos (60%) estão matriculados no EJA (Ensino de Jovens e Adultos)”, explicou a pasta.
Na região administrativa da Diretoria de Ensino de Votuporanga são sete registros do uso do nome social, sendo um na EE Porfírio Pimentel, em Macaubal, outro na EE Professora Maria Nívea Costa Pinto Freitas, em Votuporanga, e cinco na EE Dr. José Manoel Lobo, também em Votuporanga.
Para o aluno pedir a inclusão do nome social, a diretora da EE Dr. José Manoel Lobo, Isaura Deolinda D’Antônio, explicou que basta requerer à escola em qualquer período. A escola tem sete dias para incluir o nome social no sistema de cadastro de alunos e a partir disso serão gerados os documentos escolares de circulação interna – lista de chamada, carteirinha de estudante e boletim escolar. “É uma identidade nova que eles têm. Na escola, isso ocorre naturalmente e não temos problemas. O convívio é natural e a nossa obrigação é ajudar a fazê-los mais felizes. Ninguém deve ter preconceito”, explicou a diretora.
(Colaborou Gabriele Reginaldo)